sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

A minha estrelinha

Em 2016 que ficamos mais felizes e unidos. Dia 12 de Novembro descubro que estou grávida. Sem planearmos, sem nada que o fizesse prever estava novamente grávida e isso era o sinal bom para aguentar o longo e pesado ano que 2016 estava a ser. Chorei muito e perguntei-me milhares de vezes o que faria, se continuava ou não com a gravidez, se a Maria Inês ia reagir bem sendo ainda tão pequena, se iríamos conseguir como casal suportar a continuidade das noites mal dormidas que a nossa filha ainda nos dá (já foi bastante pior), perguntei-me imensas coisas que não tinham resposta e que continuam sem ter. Reagimos bem tendo em conta que a gravidez não tinha sido planeada. Questionámo-nos algumas vezes, mas não fizemos disso um problema, começamos logo a arranjar uma solução. Era tempo de usufruir da barriga, contar aos mais próximos devido às alterações corporais, fazer os exames necessários e tomar os suplementos tão importantes no 1º trimestre. Assim foi. Contamos e fiz tudo direitinho. Comer, descansar, beber água, manter a rotina diária, mas sem pequenos pormenores que para quem está grávida faz toda a diferença. Até ao dia 20 de Dezembro. Noto uma pequena perda de sangue e na consulta da Maria Inês digo à minha médica assistente que me manda para a urgência, diz de inicio que deve e pode ser um descolamento de placenta, mas que com a eco teríamos a certeza e o obstetra indicar-me-ia o tratamento adequado. Ok. Se é necessário eu vou. E fui. Lembro-me de estar a falar com uma colega ao telemóvel. Explico ao médico o que tinha acontecido e durante a eco o médico faz perguntas e começa, passado uns 2 minutos a questionar-me quantos testes de gravidez tinha feito para a confirmação da gravidez. Respondo a medo e ouço "Ok, aqui não há nada (bebé) e começou hoje o processo do aborto, aguarde 2 semanas para expulsar naturalmente e se não acontecer nada volte cá e depois vemos" e em segundos deixo de ouvir o quer que seja... levanto-me, limpo-me e pergunto apenas "como assim? Não estou a perceber" e ouço "não há, não há e não há" e deixa-me sozinha. Numa sala cheia de apetrechos médicos e uma enfermeira que me diz que tenho que desmarcar as consultas seguintes e que no fim me deseja felicidades. Felicidades? Acabo de descobrir que estou grávida sem bebé* e deseja-me felicidades? É suposto ser assim? Desejar felicidades a alguém que acaba de perder um pouco de si? E era suposto o quê? Dizer obrigada e agradecer a hospitalidade que (não) houve por parte de um profissional de saúde que me fez sentir péssima, doida e culpada de estar em processo de aborto? Saí do hospital, respirei, falei com uma amiga, contei ao marido que estava em reuniões longe de casa (seria a primeira noite fora nos dois anos que está a dar aulas naquele terra) e chorei. Chorei tanto. Senti-me tão mal. Perguntei Porquê tantas mas tantas vezes. Senti-me a pior mãe do mundo por estar a chorar pelo meu bebé "irreal" em vez de dar mimos a minha menina prestes a completar o seu 3º aniversário. Mas não conseguia. Teria que chorar. Desabar sozinha para me recompor quando o marido estivesse em casa. Era tão injusto este processo todo e esperar 2 semanas seria penoso, doloroso, angustiante por continuar grávida e saber que não ia nascer nenhum bebé com DPP para 16 de Julho. Não era justo para mim, não era justo para o meu marido, muito menos para a Maria Inês que andava tão feliz com o mano. Foram 17 dias. Entre o dia 20 de Dezembro até ao dia 6 de Janeiro, dia em finalizou este processo que deixa em mim uma marca para sempre, dure eu 10 ou 50 anos. 17 dias que foram os mais longos e dolorosos, que marcaram em mim para sempre o fim de uma história que tinha tudo para ter um final feliz. Foram 17 dias de puro sofrimento. Descobri que sou mais forte do que pensava. Suportei dores terríveis ao deixar o médico com pinça/tesoura na mão retirar o que estava no útero, suportei colocar-me compressas lá dentro para que a hemorragia pudesse dar tréguas para ele conseguir ver e perceber o porquê de não estancar o sangue e descobriu. Foi retirado de mim o meu bebé (o tal que sempre disseram que não existia), vi a minha estrelinha agarrada à tesoura, percebi-lhe o formato e perguntei ao médico o que era, apenas para confirmar e confirmou-se. Era o bebé. Estava agarrado de tal forma ao meu útero que estava a provocar-me uma hemorragia tão grande que se não tivesse ido para o hospital, não tinha sobrevivido. Mas acabou por correr tudo bem. As equipas foram impecáveis, os médicos foram super profissionais e por precaução fiquei internada saindo apenas no dia seguinte. Já passou a dor fisica e agora fica a pior, a psicológica. A tristeza e o vazio. Não há nada que apague da minha memória o que vi, nada consegue alterar o que sinto e nada preenche o meu vazio. Sinto-me impotente em algo que não conseguia controlar, por muito que quisesse e eu queria tanto, mas tanto. Não consigo explicar o que sinto. Não mesmo. Não consigo fazer com que os outros percebam que necessito de fazer o meu luto interior para que seja mais fácil, porque ele era meu. Era o meu bebé, o meu filho, o mano da Maria Inês e que já era amado desde aqueles dois riscos no teste de gravidez. Digam que estou a exagerar, que sou nova e que não posso ficar triste, que depois faço outro e que tenho a Maria Inês. É tudo verdade, menos a parte de não ficar triste. Eu quero ficar triste, tenho todo o direito de ficar e agora percebo tão bem quando dizem "só quem passa por elas é que sabe", mas este processo fez de mim uma pessoa com uma certeza. QUERO e VOU DAR UM IRMÃO À MARIA INÊS. Devo-lhe isso, a ela e ao meu super marido que foi o melhor dos melhores. Sem ele não teria aguentado todo este processo.
OBRIGADA amor..

Parte I 2016

Passou aproximadamente 1 ano depois do ultimo post "a sério", não por falta de vontade mas não queria estar sempre a lamentar-me devido a tudo o que foi acontecendo ao longo do ano.
2016 foi, particularmente, um péssimo ano, senão o pior da minha vida.
Primeiro percebo que a cirurgia à coluna tem que ser feita porque melhoras nem sinal, segundo uma pneumonia em estado avançado que foi desvalorizada pelo médico que me atende a primeira vez nas urgências, terceiro sou chamada de um dia para o outro para a cirurgia e isso transtorna tanto as nossas vidas naquele momento que quase desisto no primeiro minuto da chamada do médico, mas não desisto. Recuperação de 2 meses e estou de volta à rotina diária. Com bastantes cuidados, mas soube bem voltar sem dores ou perda de força na perna que já estava a limitar-me cada vez mais e a uma velocidade tremenda e como tudo estava bom (só que não) e como todas as crianças e no meio deste carrossel todo a Maria Inês vai ficando doente e temos em mãos um problema na escola. Fica ou não na mesma? A mensalidade é um roubo, o acompanhamento não é o adequado na nossa opinião, uma das responsáveis deixa-me, literalmente, a falar sozinha quando tento expor o meu ponto de vista em relação à minha filha. Ok. Acabou por ajudar-me a decidir. Nova escola, nova adaptação, novos amiguinhos e novas rotinas. Assustou mas ainda bem que o fizemos. Uma mensalidade mais confortável, melhor acompanhamento e novos amigos. A mudança por vezes doi-nos mais a nós que a eles...e por vezes mudanças são fundamentais para que possamos crescer e aprender. Foi a melhor decisão de 2016 mas há mais...

*gravidez sem bebé é, medicamente, chamada por gravidez anembrionada que significa que existe tudo o que existe numa gravidez dita normal, mas o embrião por algum motivo foi absorvido pelo organismo da mãe.

2017

(imagem retirada da internet)