sábado, 29 de março de 2014

...

Lembro-me de ser miúda e ansiar a sua chegada, de ser abraçada por ele como nunca na minha vida fui pelo meu pai. Chamava-me feia de forma carinhosa, apertava-me as bochechas e voltava a salientar que era a sua feia preferida. E eu gostava...O fiat punto preto foi durante muitos anos esperado à porta quando era natal ou, simplesmente, quando apetecia fazer uma visita aos familiares que ficaram pela aldeia. No inicio cheio, mas ao longo dos anos foi trazendo menos pessoas. Os anos foram passando. Primeiro foi o João Pedro a deixar de acompanhar os pais e anos mais tarde foi a vez da Sofia. Passaram (ele e a mulher) a vir sozinhos e cada vez com menos frequência. Via-o apenas algumas vezes no ano, mas cada uma delas era especial à sua maneira, sabia gostar de quem gostava dele. Sabia dizer tudo o que tinha a dizer sem sequer pensar no que iam pensar dele. E voltaram a passar mais uns anos...deixei de ser miúda e de esperar pelo fiat, as visitas começaram a ser cada vez mais escassas, chegando mesmo a ser apenas uma vez no ano...no máximo! Afasta-mo-nos algum tempo e quando casei voltá-mo-nos a aproximar, até hoje. Gosto dele como se fosse meu pai, é das melhores pessoas que conheço e tenho imensa pena dos muitos kms que separam a nossa relação, que agora, infelizmente, não vai voltar a ser a mesma. Tenho a certeza que ele gosta de mim como filha e tenho por ele um respeito enorme, tenho por ele um gostar diferente e na verdade ele não me é nada, apenas tio porque está casado com a minha tia/madrinha, mas como já disse, ele conquistou-me desde miúdinha e até hoje é a ele que trato como padrinho, mesmo não o sendo. É a ele que tenho imenso respeito e agora mais ainda, depois de um terrível AVC que lhe arrancou a boa disposição e a vontade de viver. Um AVC que levou o seu sorriso contagioso e a vontade de fazer mais e que deu lugar a uma pessoa mais amarga sem vontade para nada. Tenho imagens tão giras dele e agora, depois de o ver como ficou, parece que todas as imagens de antes desvaneceram. O homem forte, de cabeça levantada e barba sempre desfeita, deu lugar a um ser magrinho, com a cabeça para baixo e barba grande. Sinto-me profundamente triste e magoada com o que a vida pode trazer-nos quando menos esperamos. Não posso deixar de lamentar o fim triste que o meu padrinho vai ter, visto que melhoras é  coisa que os médicos dizem ser quase impossível devido ao estado dele.
A meta dele nestas últimas semanas era conhecer a minha bebé e conseguiu. Levei a Maria Inês a conhecer o meu tio/padrinho e tenho a certeza que foi a melhor prenda que ele recebeu...e sinto-me bem por isso!
Resta-me lembrar-me dele como era e esperar que um dia possa ficar bem!!!

Sem comentários:

Enviar um comentário